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Monday, March 21, 2005

Vamos falar de SeXo ...

Monogamia e Poligamia:

"A poligamia e a monogamia têm repartido entre si os favores sociais ao longo dos séculos. Creio que a poligamia é a condição mais natural, pois coincide, de algum modo, com a própria fisiologia da reprodução, uma vez que o homem pode fecundar várias mulheres.
Em determinadas épocas, quando era necessário fazer com que a população aumentasse o mais depressa possível, o patriarca — o macho na sua plenitude — tratava de fecundar o maior número possível de mulheres para garantir a descendência do grupo. Mais tarde, quando o número de homens e o número de mulheres se equilibrou, começou a impor-se a monogamia, para não se multiplicarem os conflitos entre os diferentes grupos. Mas isto não significa que a poligamia deva ser identificada com a infidelidade, porque é, de facto, uma forma de fidelidade diferente. A monogamia é fidelidade a um indivíduo, enquanto a poligamia o é em relação a um número maior de pessoas. Há também o caso da poliandria, com vários homens compartilhando a mesma mulher, embora se trate de uma figura mais rara, até porque contraria a normalidade fisiológica.
Para Emilio Corbière, questão do sexo no judeu-cristianismo e no maometamismo é uma demonstração da estupidez humana.
O verdadeiro sexo era o dos gregos, dos pré-socráticos, que era livre.
Esta concepção judeu-cristã que o considera pecado é contrária à história e ao desenvolvimento humanista».
Todas as normas em causa se ligam a épocas em que o erotismo era fiscalizado em função exclusivamente da reprodução. Mas, a a partir do século xviii, o erotismo passa a ocupar-se tanto da reprodução como da satisfação da pessoa.
Na modernidade começou a existir com mais frequência aquilo a que poderíamos chamar a monogamia sucessiva: as pessoas que m atravessam sucessivas fases monogâmicas. Quase ninguém pratica a monogamia com uma única pessoa durante a vida toda, mas pratica-a várias vezes, uma a seguir às outras. Exitem, seja como for, neste domínio combinações de todo o tipo, que se associam à repartição dos papéis sociais. A irrupção da mulher no mundo do trabalho transformou extraordinariamente este campo.
Foi sempre consentido mais ao homem, foi-lhe sempre permitido um comportamento mais livre em matéria sexual, ao passo que se foi mais exigente com a mulher.
Todavia, o curioso é que foi a mulher que, na mitologia popular, teve fama de lasciva, de pessoa portadora de um desejo insaciável, de traidora, etc. O homem, em contrapartida, apesar de se ter comportado nesses termos ao longo dos séculos, tem fama de ingénuo, de nobre, de ser que é enganado.
Na realidade, o engano é tentar estabelecer critérios de avaliação diferentes para o comportamento da mulher e do homem. Se esta mos de acordo em aceitar como relativamente natural que o homem possa ter práticas sexuais com outras pessoas, que não sejam a sua mulher, deveremos considerar que a mulher tem o mesmo direito.
Há diferentes razões pelas quais dois indivíduos podem permanecer juntos: económicas, para manterem uma estrutura familiar, para criarem e cuidarem dos filhos. Mas o afecto e a ternura devem ser os motivos fundamentais a fazer com que, na nossa época individualista e hedonista, duas pessoas vivam juntas.
Este afecto e esta ternura não têm necessidade de ser sexualmente exaustivos. Podemos ter grande ternura por alguém, podemos desejar compartilhar com essa pessoa a nossa vida e, apesar disso, experimentarmos a vontade de fazer amor com outra, pela qual sentimos apenas curiosidade, ou que nos atrai, mas com a qual não estaríamos minimamente interessados em viver.
Portanto, pode existir uma dissociação entre o afecto a longo prazo — afecto que ajuda a viver lado a lado, a compartilhar tarefas, preocupações, interesses, a cuidar de uma família — e o interesse sexual pontual, que é qualquer coisa de muito mais lúdico, ligado à satisfação dos sentidos e que não necessita de ter uma importância transcendente. Quer dizer, há pessoas com as quais queremos viver e há outras com as quais desejamos fazer amor, e há ocasiões em que queremos fazer amor com essas pessoas com as quais também gosta mos de viver.
Esta dissociação vê-se cada vez mais claramente, e talvez dentro de pouco tempo deixe de ser motivo de ruptura do afecto ou de separação daqueles que querem viver juntos, o facto de ocasionalmente fazerem amor com outras ou outros à margem do casal estável que formam (...)"

FERNANDO SAVATER, Os dez mandamentos no século XXI (pp104-106)

MªInês
|| rbn´s blogue, 1:06 AM

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