Thursday, March 31, 2005
Casos de Polícia
“Ireneu Dinis, 33 anos. António Abrantes, 30 anos. Paulo Alves, 23 anos.
Estes homens foram assassinados, a tiro na amadora, Portugal, em 2005. O primeiro, há menos de dois meses. Os outros dois, esta semana. Eram agentes da PSP.
Há uns anos, em Évora, um policia mata um á queima-roupa um jovem delinquente.
Nessa altura, condenou-se a reacção excessiva da polícia. Ironia? Não: um fio condutor perpassa por todas as histórias. Morrem homens, de um ou outro lado, por falta de preparação.
No bairro da Falagueira, um homem é interpelado pela autoridade e é intimado a identificar-se. Em resposta, o suspeito dá um tiro na cabeça do agente e alveja um segundo. Tem tempo de escapar, não obstante a presença de um terceiro polícia. Não fugiu a correr: entrou no carro, ligou a ignição e tranquilamente, saiu da cena do crime. Não consta que os agentes tenham disparado sobre ele, como aconteceria num filme americano. (..) Como é que isto pode acontecer?
Nenhum de nós, nem eu, nem o leitor, estivemos no local. Mas podemos presumir, sem medo de errar muito, que estes homens nunca foram devidamente ensinados a lidar com situações de extrema violência.
Entendamo-nos: ser policia não é um emprego. È uma missão, e uma missão de risco. Na polícia lida-se com delinquentes e com marginais. Usam-se armas. Morre-se. Mas não se morre assim.
Quem são os verdadeiros responsáveis pela morte destes jovens? Os homens que disparam ou o Estado que contemporizou? O disparo de um revólver ou a instituição que não os forma, que não lhes paga condignamente, que os obriga a pagar a própria farda? (...) O gesto de um criminoso ou o critério que envia os menos bem classificados da escola de policia para os teatros de operações mais problemáticos?
E que dizer de Orçamentos do Estado, que prevêem a renovação das frotas de topo de gama para ministros e gestores públicos e atira os polícias aos bichos, em viaturas a cair, sem protecção blindada? E que dizer do fechar de olhos das autarquias ao vídeo partido, ao graffiti selvagem, á lâmpada fundida no jardim publico, ás ruas transformadas em santuários de droga?
Ireneu, António, Paulo: não foram só os delinquentes que vos mataram. Foram os responsáveis políticos que elegemos nos últimos 30anos. Portanto, fomos nós!”
Sexto sentido, Filipe Luís – 24 de Março de 2005, in VISÃO
/rbn/
Estes homens foram assassinados, a tiro na amadora, Portugal, em 2005. O primeiro, há menos de dois meses. Os outros dois, esta semana. Eram agentes da PSP.
Há uns anos, em Évora, um policia mata um á queima-roupa um jovem delinquente.
Nessa altura, condenou-se a reacção excessiva da polícia. Ironia? Não: um fio condutor perpassa por todas as histórias. Morrem homens, de um ou outro lado, por falta de preparação.
No bairro da Falagueira, um homem é interpelado pela autoridade e é intimado a identificar-se. Em resposta, o suspeito dá um tiro na cabeça do agente e alveja um segundo. Tem tempo de escapar, não obstante a presença de um terceiro polícia. Não fugiu a correr: entrou no carro, ligou a ignição e tranquilamente, saiu da cena do crime. Não consta que os agentes tenham disparado sobre ele, como aconteceria num filme americano. (..) Como é que isto pode acontecer?
Nenhum de nós, nem eu, nem o leitor, estivemos no local. Mas podemos presumir, sem medo de errar muito, que estes homens nunca foram devidamente ensinados a lidar com situações de extrema violência.
Entendamo-nos: ser policia não é um emprego. È uma missão, e uma missão de risco. Na polícia lida-se com delinquentes e com marginais. Usam-se armas. Morre-se. Mas não se morre assim.
Quem são os verdadeiros responsáveis pela morte destes jovens? Os homens que disparam ou o Estado que contemporizou? O disparo de um revólver ou a instituição que não os forma, que não lhes paga condignamente, que os obriga a pagar a própria farda? (...) O gesto de um criminoso ou o critério que envia os menos bem classificados da escola de policia para os teatros de operações mais problemáticos?
E que dizer de Orçamentos do Estado, que prevêem a renovação das frotas de topo de gama para ministros e gestores públicos e atira os polícias aos bichos, em viaturas a cair, sem protecção blindada? E que dizer do fechar de olhos das autarquias ao vídeo partido, ao graffiti selvagem, á lâmpada fundida no jardim publico, ás ruas transformadas em santuários de droga?
Ireneu, António, Paulo: não foram só os delinquentes que vos mataram. Foram os responsáveis políticos que elegemos nos últimos 30anos. Portanto, fomos nós!”
Sexto sentido, Filipe Luís – 24 de Março de 2005, in VISÃO
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|| rbn´s blogue, 11:38 AM
